segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Inclusão educacional Escola para todos









Crianças e adolescentes com deficiência terão que ser acolhidos nas classes regulares, determina um novo decreto federal que torna o Brasil pioneiro em inclusão educacional. Pode ser uma boa notícia para o seu filho, mesmo que ele não tenha nenhuma dificuldade física ou intelectual. Descubra por quê


Até o fim do ano, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo vai fechar sua escola especial, que desde 1981 ensinou a ler e escrever mais de 700 crianças com deficiência intelectual - a maioria com síndrome de Down. Diferentemente do que possa parecer, essa é uma boa notícia. Trata-se de mais um passo para inserir definitivamente essas crianças na sociedade, obedecendo a uma nova lei. Promulgado no ano passado pelo governo federal, o Decreto nº 6.571 determina que alunos com necessidades educacionais especiais - com deficiência intelectual e física - sejam acolhidos em classes comuns do ensino regular, acabando de vez com as "classes especiais".

Ponto para nós: o Brasil é pioneiro ao tornar lei o que em muitos países é apenas recomendação. "Em 2007, orientamos os pais dessas crianças a matricular os filhos em escolas perto de casa e nos propusemos a fazer um acompanhamento por cinco anos. Estivemos em 300 instituições conversando sobre a adaptação dos estudantes", explica a coordenadora do Serviço Educacional da Apae, Liliane Garcez.

Portanto, nos próximos anos, aumentam as chances de que crianças com e sem deficiência convivam nas escolas, sejam públicas ou privadas. Estudiosos em inclusão social no mundo inteiro vêm comprovando os benefícios que a presença dessas crianças nas classes regulares traz ao grupo. "A inclusão implica melhor qualidade de ensino para todos", afirma a professora da Unicamp Maria Tereza Égler Mantoan, fundadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. "À medida que o docente pensar em novas propostas para esse público específico, atingirá também os 40% dos alunos com alguma dificuldade de aprendizado." Parece inacreditável, mas até recentemente era muito comum que um estudante sem nenhuma defi-ciência que não conseguisse se alfabetizar aos 7 anos fosse encaminhado a uma classe especial da rede pública. "Há cinco anos, essas salas viviam cheias de crianças sem deficiência alguma. Estavam lá por um fracasso escolar", alerta Daniela Alonso, psicopedagoga e especialista em inclusão.

Outro benefício prontamente identificado é o convívio com a diversidade. Na opinião de Liliane Garcez, da Apae, é na escola que aprendemos a ser cidadãos e a conviver com as diferenças. "Esse aprendizado traz grandes ganhos hoje e para o futuro. Até mesmo as empresas valorizam a inteligência emocional. Essas crianças serão profissionais mais flexíveis para lidar com opiniões diversas e respeitar o próximo", acredita ela.


GOLPE NO PRECONCEITO

Mesmo assim, vai ser difícil, e que ninguém duvide: o Brasil está diante de um imenso desafio educacional. As escolas terão que cultivar um novo olhar, acolhendo todos os estudantes, e combater o preconceito, que é poderoso, sobretudo na rede pública. Um estudo recém-concluído, encomendado pelo Ministério da Educação e realizado em 501 escolas públicas de todos os estados brasileiros, revelou que 96,5% dos entrevistados assumem ter algum preconceito contra alunos com necessidades especiais. Os pesquisadores encontraram até casos de tortura contra eles. "Só a convivência e a transformação da escola em local comum a todos poderão mudar esse cenário", avalia Daniela Alonso.

Ela lembra que muitas vezes a resistência parte dos próprios professores que, principalmente na rede pública, já enfrentam uma infinidade de problemas, como violência, remuneração baixa e classes lotadas. Nesse cenário, a obrigação de acolher um deficiente é vista como mais uma tarefa espinhosa. "Será muito complicado mudar essa cultura de uma hora para outra, mas só com a prática os professores aprenderão a lidar com isso. Não há outra forma e todos terão que se esforçar", acredita Cláudia Dutra, secretária de educação especial do Ministério da Educação (MEC).
Existem 695 699 estudantes com necessidades especiais no Brasil, segundo o censo escolar de 2008. Cerca de 54% deles frequentam o ensino regular, um grande progresso em relação a 1998, quando 87% estavam em classes separadas dos demais. Estima-se ainda que cerca de 5% das crianças com deficiência em idade escolar estejam em casa, privados de educação e do convívio social. Para atender a todos, a lei engloba três grupos. No primeiro, estão crianças com deficiências física, mental, auditiva, visual e múltipla (duas ou mais das anteriores); no segundo, as com transtornos globais de desenvolvimento, como autismo; por fim, há as crianças com altas habilidades, antes chamadas de superdotadas.


Fonte : Daniela Venerando Revista Claudia – 09/2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário